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segunda-feira, 8 de julho de 2024

O desaparecimento do descanso

                                  



SAÚDE TOTAL

CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA


                               O desaparecimento do descanso

Enquanto alguém que pratica a psicanálise em um consultório, jamais ouvi tantos testemunhos de pessoas cansadas, exaustas ou até esgotadas. E pode parecer até estranho visto que temos muito mais facilidades hoje do que antigamente.

Mas o que acontece é que a cultura presente vem nos incitando a ter o que é chamado de hiperatenção, ou seja, uma atenção voltada para mudanças bruscas de foco entre diversas atividades, processos e informações, ou melhor dizendo, nos afunda na dispersão.

Atendendo um adolescente de 12 anos fiquei curioso com o relato de tantas atividades que ele realizava durante a semana. O perguntei se ele não tinha tempo para um momento de calmaria, em que poderia deitar no sofá, sem se preocupar em fazer qualquer coisa. Ele respondeu que não conseguiria fazer isso, pois o tédio o envolveria e, ele entraria em angústia. Tenho que confessar que fiquei extremamente preocupado. Não somente com ele, mas com toda uma geração que tem feito do descanso uma prática inexistente.

Temos uma geração de inquietos. Não posso deixar de contar de uma outra adolescente que atendia. Esta jovem durante a sessão fazia objetos de papel e quanto não estava envolvida nesta atividade, lixava as unhas. Não conseguia focar totalmente na análise.

O que mais é terrível de se pensar é que os inquietos nunca foram tão valorizados. As pessoas falam com orgulho de diversas ocupações que realizam. O que é importante é que é somente na contemplação, na quietude, que conseguimos elaborar situações desafiadoras. É na ponderação que encontramos caminhos para situações que ora parecem difíceis demais de serem resolvidas.

Não é por acaso que a violência encampa na sociedade de forma avassaladora. Segundo Byung-Chu Han, caminhamos para uma nova barbárie. E não é muito difícil de dar veracidade as palavras do filósofo quando vemos as notícias terríveis e sangrentas que pululam ao nosso redor o tempo todo.

Como poetizou Paul Cézanne, precisamos sentir o cheiro das coisas. Isso só é possível quando freamos nossa vida impulsiva, entendendo que é somente nesta condição que conseguiremos ter uma sociedade uma pouco menos caótica.

Um fortíssimo abraço para você!


Instagram: eduardo_baunilha_psicanalista

Um comentário:

A esperança

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