CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA
O desaparecimento do descanso
Enquanto alguém que pratica a psicanálise
em um consultório, jamais ouvi tantos testemunhos de pessoas cansadas, exaustas
ou até esgotadas. E pode parecer até estranho visto que temos muito mais
facilidades hoje do que antigamente.
Mas o que acontece é que a
cultura presente vem nos incitando a ter o que é chamado de hiperatenção, ou
seja, uma atenção voltada para mudanças bruscas de foco entre diversas
atividades, processos e informações, ou melhor dizendo, nos afunda na dispersão.
Atendendo um adolescente de 12
anos fiquei curioso com o relato de tantas atividades que ele realizava durante
a semana. O perguntei se ele não tinha tempo para um momento de calmaria, em
que poderia deitar no sofá, sem se preocupar em fazer qualquer coisa. Ele respondeu
que não conseguiria fazer isso, pois o tédio o envolveria e, ele entraria em
angústia. Tenho que confessar que fiquei extremamente preocupado. Não somente
com ele, mas com toda uma geração que tem feito do descanso uma prática
inexistente.
Temos uma geração de inquietos.
Não posso deixar de contar de uma outra adolescente que atendia. Esta jovem durante
a sessão fazia objetos de papel e quanto não estava envolvida nesta atividade,
lixava as unhas. Não conseguia focar totalmente na análise.
O que mais é terrível de se
pensar é que os inquietos nunca foram tão valorizados. As pessoas falam com
orgulho de diversas ocupações que realizam. O que é importante é que é somente
na contemplação, na quietude, que conseguimos elaborar situações desafiadoras. É
na ponderação que encontramos caminhos para situações que ora parecem difíceis
demais de serem resolvidas.
Não é por acaso que a violência
encampa na sociedade de forma avassaladora. Segundo Byung-Chu Han, caminhamos
para uma nova barbárie. E não é muito difícil de dar veracidade as palavras do
filósofo quando vemos as notícias terríveis e sangrentas que pululam ao nosso
redor o tempo todo.
Como poetizou Paul Cézanne,
precisamos sentir o cheiro das coisas. Isso só é possível quando freamos nossa
vida impulsiva, entendendo que é somente nesta condição que conseguiremos ter
uma sociedade uma pouco menos caótica.
Um
fortíssimo abraço para você!
Instagram: eduardo_baunilha_psicanalista
Que texto belíssimo. Excelente discussão. Amei.
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