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domingo, 16 de outubro de 2022

Experiência ou vivência

          



SAÚDE TOTAL

CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA

Experiência ou vivência

Será que existe diferença entre vivência e experiência? O Dicionário da Língua Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira de Letras, aglutina os dois vocábulos quando conceitua que a vivência é o “conhecimento adquirido e desenvolvido através da experiência de vida”.

No entanto, Walter Benjamin, um literato e pensador alemão, fez uma distinção entre os dois quando escreveu que um conjunto de vivências sem muito significado, não faz, por si mesmo, uma experiência.

Walter Benjamin nos eleva a um pensar bem mais arguto que o próprio dicionário. O pensador movimenta nosso pensamento na direção das práticas de vida atual. Vivemos muitas situações sem angariar experiências por causa da sensação psíquica de que tudo tem que ser feito muito rápido e em grande quantidade, porque estamos em um momento em que tudo é mais acessível, mais prático.

Saímos, namoramos, jantamos fora, brincamos com os filhos, vamos a parques, trabalhamos, nos comunicamos, mas tudo superficialmente. Estamos nos lugares, com as pessoas, mas de forma banal, vazia, pobre.

Não é por acaso que a tristeza encampou em nós, por causa destas vivências que não surtem experiências.

Christian Dunker (2021, p. 163) também dialoga a respeito destes dois conceitos e faz uma distinção entre eles. Para ele “a vivência é uma verticalização das sensações, o que a torna um evento efêmero e individual. A experiência, ao contrário, é um horizontalização das sensações e demanda uma partilha social dos afetos”.

Para exemplificar experimente passar mais de 10 horas jogando com um grupo de amigos da faculdade, como ouvi de um adolescente recentemente. Parece que o momento foi rico, mágico, mas no fim deixa uma sensação de solidão intensa. Houve vivência, mas não experiência.

Por outro lado, fique mais de 3 horas conversando com uma pessoa muito agradável, alegre e cheia de vida. Quando terminar este momento parecerá que conversaram por apenas 5 minutos, pois a experiência compartilhada se conectou de tal maneira que se criou um engajamento. Certamente ficará na memória estes instantes e, certamente, serão compartilhados, por causa do prazer e da alegria vivenciados.

Precisamos ficar atentos. Quantas vezes estamos junto com muitas outras pessoas num mesmo espaço geográfico e estamos longe tendo vivências midiáticas, perdendo a experiência que poderíamos e deveríamos ter por meio da conversa interessante, engraçada, construtiva, amiga, informativa e/ou confortadora.

Pensemos nisso!

Um fortíssimo abraço para você. Até a próxima!


Referência:

DUNKER, Christian. Uma biografia da depressão. São Paulo: Planeta, 2021.

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